quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Zen.

Neste presente artigo se faz uma exposição sobre o fenômeno da popularização da palavra “Zen” e esclarecer sobre o seu significado e o que realmente ele é.
Ch&39;an
Toda vez que ouvimos as expressões populares sobre o Zen[1] as tornam adjetivos pessoais. Como exemplos: “Fulano é zen”; “hoje meu marido está zen”. O zen desta forma se tornou um adjetivo de tranqüilidade, embora a palavra tem uma relação com este estado mental, mas que não está submetido aos fatores externos.
A origem da palavra Zen, ligada ao Budismo, pois faz parte dos ensinamentos do Buddha, vem de Zen-na, de origem japonesa, em virtude da chegada do budismo no Japão, pois a Escola que havia entrado se chamava de Ch’ an, de Ch’an-na, de origem chinesa, esta expressão era oriunda da palavra sânscrita Dhyana, que sugnificava “Concentração Tranqüila”, uma ferramenta exposta pelo Buddha Shakyamuni (Siddartha Gautama), ao passar um ensinamento silencioso, do qual ele levantou uma flor com a mão e a sustentou, seus discípulos não compreenderam este ensino, apenas Mahakashyapa o compreendeu e expôs o ensino compreendido[2].
Orquídea
Sendo assim, o Dhyana (Zen) é um ensino que expõe a vacuidade (Sunyata) em todos fenômenos da Vida, o comportamento da mente, a observação da Gênese Condicionada e a aplicação de uma concentração tranqüila nas tarefas cotidianas[3], tal método é desprezado e escarnecido pelos homens ocidentais contemporâneos (bárbaros).

Desta forma o Dhyana é parte da vida cotidiana, ou seja, estarmos presentes de forma fluídica, contínua e tranqüila, concentrados e atentos a fim de controlarmos os nossos instintos e seguirmos os nossos dharmas e, juntamente a este método, respondermos as perguntas de nossos pequenos mistérios: Quem somos? De onde viemos? Para aonde vamos? Cada homem e mulher deste planeta responderão para si mesmos a estas perguntas e realizar sua jornada[4].

A popularização do Zen (Dhyana) se deu em virtude do I Parlamento das Grandes Religiões, em Chicago no ano de 1893, do qual a única Escola budista que aceitou o convite foi a Escola japonesa Rinzai (uma escola zen)[5], embora a chegada do Budismo em terras ocidentais se deu nos meados do Séc. XIX, ocorrendo conversões de proeminentes figuras da sociedade estadunidense, como o militar e jornalista Henry Steel Olcott, co-fundador da Sociedade Teosofica em New York[6].

Coronel Henry Steel OlcottCoronel Olcott e monge singalêsI Parlamento das Grandes Religiões, Chicago - 1893

Voltemos as nossas atenções ao I Parlamento de 1893, sendo a Escola Rinzai a se promover, apesar de não ter apoio institucional, além de serem sobrepujados pela presença do Swami Vivekananda (hinduísta), cuja presença era ansiosamente esperada, conseguiram lançar suas sementes em terras ocidentais, pois até hoje a escola budista mais conhecida pelos ocidentais é o Zen (Dhyana) [7]. Tanto de forma mítica, como filosófica, passando pelas formas artísticas da Literatura (caligrafia, Haicai – poemas naturalistas,que valoriza a concisão e a objetividade -, Koans – contos paradoxais)[8] e das artes plásticas (Sumi-ê – desenhos paisagísticos  ou natureza morta, que refletem a calma  e a reflexão, feitas em tinta nanquim)[9].
Meditação
Sendo assim, o Dhyana ou o Zen é um método exposto pelo Buddha Shakyamuni, que utiliza a meditação Samartha, a fim de conduzir as mentes humanas à tranqüilidade e conseqüente concentração e auto-conhecimento. E não é um termo vulgar que adjetiva as pessoas tranqüilas e focadas[10].

Notas e referências bibliograficas:

[1] O Zen está contido dentro da corrente Mahayana (grande Veículo). STODARTT, William - O Budismo ao seu Alcance – Editora Nova Era – Rio de Janeiro – R.J. 2001 – Pág. 32.
[2] YÜN, Hsing – A Essência do Ch’an – Templo Zu Lai – Cotia – S.P. 2003 – Pág. 06.
[3] Uma das escrituras budistas que faz referências a vacuidade e o relaciona com o Dhyana é o Sutra do Coração da Sabedoria (Prajna Paramita Hradya Sutra). Expondo o verdadeiro aspecto comportamental da mente perante os fenômenos da mente e o verdadeiro caminho para a libertação das Ilusões (Maya).
[4] YÜN, Hsing – Histórias Ch’an – Editora Shakti – São Paulo – S.P. 2000 – Págs. 09 à 11.
[5] PEREIRA, Ronan Alves – O Budismo Japonês: sua história, modernização e transnacionalização  – Artigo disponível na Reviste Eletrônica de Religiões (REVER) da PUC-SP – São Paulo – S.P. 2004 – Págs. 18 e 19.
[6] Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_nos_Estados_UnidosBudismo. Acessado em 17 de novembro de 2013 às 17:59.
[7] PEREIRA, Ronan Alves – Op.Cit  – Págs. 19 e 20.
[8] Todas as artes literárias sofreram influência profunda pelo Zen, a fim de despertar o caminho da iluminação pela beleza reflexiva das palavras.
[9] Assim como as artes literárias  a arte plástica da pintura paisagística foi influenciada pelo Zen-budismo com a mesma finalidade, porém com o diferencial do recurso visual.
[10] GOLDSTEIN, Joseph - DHARMA: O Caminho da libertação: O Nascente Budismo Ocidental – Editora Bertrand Brasil – Rio de Janeiro – R.J. 2004 – Págs. 97 e 98.