domingo, 26 de janeiro de 2014

Rádio Budista - Os ensinamentos, a filosofia e os princípios.


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Buddha Amitabha.

O Buddha Amitabha é um Buddha reverenciado, juntamente com o Buddha Shakyamuni, pela escola Terra Pura, a fim de obter méritos para renascer em um mundo de suprema felicidade.
A história sobre o Buddha Amitabha (Buda da Luz Infinita) é descrita pelo Buddha Shakyamuni no Grande Sutra da Vida Imensurável, ao qual em um passado imemorial e, provavelmente, em um universo diferente, um rei de nome Dharmakara, que renunciou ao seu trono e reino se tornou discípulo do Buddha Lokeshvara-raja (Buda Rei do Mundo), diante do qual formulou o solene voto, entre quarenta e oito votos, de construir uma Terra de Pureza em que iriam nascer todos os que invocassem com fé sincera o seu nome e buscasse através de boas ações, pensamentos e palavras corretas, acumular méritos. Ele se torna Buddha com o nome de Amitabha (Luz Infinita), prova que seu voto foi realizado e é eficaz.
Este discurso feito pelo Buddha Shakyamuni nos leva a três tipos de análises. A primeira, de cunho místico-religioso, o Buddha Shakyamuni tem o conhecimento sobre outros Buddhas em diferentes lugares e outras épocas, aos quais ele situa em seis pontos cardeais: norte, leste, sul, oeste, nadir (abaixo) e zenitê (acima). Mundos dos quais eles emprestam, doam, suas energias para a manutenção destes mundos. São tempos-lugar, outros mundos de boa-venturança, em que são regidos por esses Buddhas, graças aos seus poderes sobrenaturais, suas compaixões e bondades amorosas. A diferença entre eles e o Buddha Shakyamuni é que por serem de universos diferentes, eles possuem o Dharmakaya (Corpo do Dharma) e o Sambhogakaya (Corpo de Méritos ou deleites), mas não possuem o Nirmanakaya (Corpo Manifesto – Corpo físico). Suas manifestações em nosso mundo Saha (mundo de ilusões) se dão através de suas energias e louvores prestados por eles, mas nunca fisicamente. A segunda análise, filosofica-religiosa, é que esta terra de pureza esta dentro de nós, quando atingimos a pureza de nossos corações, conhecemos o Buddha Amitabha existentes em nos interiores de nossas essências, a partir do momento em que alcançamos o Nirvana. Conforme explicou uma vez Sua Santidade o Dalai Lama, em uma palestra sobre a cidade de Shamballa, em que para se chegar a ela, somente atingindo a candura de nossas mentes, da mesma forma é a jornada para esta terra de imensa felicidade.
A terceira análise é que por conhecer estes mundos, em virtude de seus poderes transcedentais, de ver e estar nestes lugares – eis aí uma das formas de manifestações dos milagres (poderes realizados) do Buddha Shakyamuni – ele nos incita a cultivar méritos, recitar o nome do Buddha Amitabha, em louvor aos seus méritos, e se refugiar nele para que homens e mulheres retos possam renascer nesta terra de boa-venturança e alcançarem o Nirvana. Pois, neste mundo, a Terra Pura Ocidental, é habitado por Arharts e Bodhisatvas, porém, se deve ressaltar que o Buddha Shakyamuni reverenciava a ele e a outros Buddhas, em uma cadeia infinita – eis aí uma atitude que ele exemplifica para que a humanidade deva realizar, também.
Sendo assim, o Buddha Amitabha é um Buddha que possibilita aos homens e mulheres alcançarem a libertação de suas existências, através de sua luz e de seus votos para libertar os seres sencientes das suas amarras samsáricas. Porém, para renascer na terra deste Buddha se faz necessário acumular méritos, muitos méritos, e se abster dos males que possamos cometer.

Kung-an (Koan): A teia de aranha e o Buddha.

Este Kung-an nos apresenta a importância das ações karmicas, assim como, termos sabedoria para aproveitarmos a segunda chance, que nos é dada.
Era uma vez no antigo Oriente um assassino, um homem cruel e perverso, temido por todos. Não poupava nada e nem a ninguém. Um dia uma aranha cruzou o caminho deste terrível homicida. Então, ele olhou para o aracnídeo, riu e falou: -“Podeis passar em paz! Pobre criatura! Não farei-te mal algum. Não, desta vez. Poupo-te do flagelo de uma morte.”
O Buddha e os Devas, nos Reinos Superiores, observaram tal atitude e o reverenciaram. E assim prosseguiu sua jornada, até se deparar com um combate e perecer na peleja. Porém, este verdugo foi renascer no Narak (inferno), em virtude de suas ações maldosas, passando alguns aeons[1] de existências nas trevas e na dor. O Buddha ao observar a dor deste homicida, resolveu interceder por ele, pois ele havia poupado uma vida e permitiu a jornada daquele ser, sem um impedimento. Então o Buddha utilizou o expediente da compaixão e teceu uma mística teia, a partir de suas mãos, até chegar ao condenado, para que assim ele pudesse ter uma nova oportunidade. A teia ao chegar até o ex-assassino tocou nele, então ele a agarrou e começou a subir, porém os demais condenados correram até ele e a teia. Então o Ex-assassino começou a chutá-los e insultá-los.
- “Saiam seus malditos; desgraçados! Vão arrebentar a minha teia! Saiam antes que os mate de novo, seus suínos!” Então o Buddha observando tudo se entristeceu e soltou uma lágrima mais pesada que uma peça de chumbo, que atingiu a teia a partindo e conseqüentemente o homicida caiu de volta ao Narak.
Ao lermos este kung-an podemos observar três lições morais. Quando o assassino poupa a vida da aranha e a permite passar, nos e apresentado um dos grandes ensinamentos budista: Se abster do mal e fazer o bem. Pois todas as criaturas são dignas de respeito, assim como as situações. Sobre fazer o bem é beneficiar as criaturas com o que lhes falta ou apóia-las em momentos difíceis ou não obstruir suas jornadas, respeitando seus momentos. A partir do momento anterior descrito podemos observar que quando realizamos boas ou más ações criamos Karma, dos quais em algum momento de acordo com as condições colheremos os frutos. No caso do Kung-an apresentado o assassino realizou duas boas ações que ficaram registradas no universo e no âmago deste ser. Ou seja, ele semeou uma boa ação para em um futuro, quando ele menos esperava a colheu. Porém, quando o algoz estava no Narak[2] lhe foi dada a oportunidade para que se redimisse e prosseguisse sua jornada rumo a redenção, a sabedoria e ao Nirvana. Mas ele o desperdiçou. Essa passagem nos mostra a importância de não desperdiçarmos uma chance ou a segunda chance que nos é ofertada para nos corrigirmos e progredirmos nos caminho da sabedoria e da boa-venturança. O Buddha não foi mal e cortou a teia, ele se entristeceu o a continuidade de erros de seu protegido, que não soube aproveitar esta chance. Às vezes precisamos ser estóicos; austeros; retos, para não cairmos nos erros, principalmente quando nos é dado uma segunda chance. Um dos nossos maiores erros é perdoarmos nossas vicissitudes, nos mimarmos o tempo todo sem querer pagarmos os preços de nossas ações, um verdadeiro ato de imaturidade e desejamos sermos eternamente perdoados, com isso não buscamos ou fugimos de nossas responsabilidades, sempre errando, se desculpando, só para gozarmos os deleites e não buscarmos a sabedoria e a via austera, que nos leva a ela. Estas são as lições deste Kung-an. Este Kung-an foi extraído e adaptado do livro o AIKIDÔ e a Harmonia com a Natureza. Notas: 1-Aeon – Medida de tempo equivalente ao desgaste de uma imensa montanha – o Everest – para uma planície. 2-Narak - Submundo, inferno búdico, cuja diferença do inferno cristão e islamico se dá é que a o condenado fico por uma extensão enorme de tempo, piis não existe o termo eternidade nas tradições orientais.

Kung-an: Débitos antigos (o monge e o general colérico)

Este Kung-an nos mostra que o Karma nos acompanha como nossa sombra e o valor do perdão como uma forma de libertação. Contemplar o Karma (Lei de causa e efeito) e nos perdoarmos.
Um jovem noviço foi solicitado para pegar água para seu mestre. Ao trazer a água um peixeiro passou por ele e um peixe saltou para dentro do balde trazido pelo noviço. Que jogou a água com o peixe fora, matando o peixe desta forma. Passado os anos o noviço veio a se tornar o abade do templo. Um dia reunido com seus discípulos disse: “Um paradoxo (kung-an) iniciado a quatro décadas atrás será concluído hoje”. Os discípulos: “Como, mestre?” “Quando, honrado mestre?” Então ele responde: “Antes do fim desta manhã”. Então se silenciou e pôs-se a meditar. Um jovem general que passava perto do templo com seus soldados foi tomado por um sentimento de cólera, de repente e sem motivo aparente. Pegou seu arco e flecha e invadiu sozinho o templo adentrando o Dojo (Salão do Dharma) de forma violenta e encarou cheio de ódio o abade. O abade disse: “Eu te aguardava. Então, és tu, jovem general o meu credor?” O general respondeu, assustado: “Nunca te vi antes, mestre. Não entendo o por quê te odeio e quero matá-lo”.
Então o abade contou ao general o ocorrido em décadas passadas: “Quando eu era um noviço matei em minha ignorância, desespero e fome por perfeição um peixe, mesmo que acidentalmente adquiri um dívida de vida com este ser senciente. Por isso hoje te encontras aqui, comigo, para saldarmos esta dívida, ó nobre general. Peço teu perdão pelo meu erro e estou disposto a pagar minha dívida” O general reflexivamente abaixou o arco, se emocionou e em verso disse: “Buscar vingança Até quando? Por isso nos encontramos Nas eternidades dos nascimentos e renascimentos Para alcançarmos a boa-venturança Esqueçamos as antigas inimizades” Após proferir este poema o general faleceu com a feição mais leve e liberta. O abade, em seguida, escreveu um poema em um papel e o disse em voz alta: “Durante quatro décadas Mudamos tanto. Quem imaginaria que nos Encontraríamos para saldar nossos Débitos antigos. Estamos livres.” Após proferir este poema o mestre faleceu, também.
Kung-an extraído e adaptado do Livro: YÜN, Hsing - Contos Chan - volume 2.- Editora de Cultura.

Kung-an (Koan) – Lições sobre o bambu.

Este Kung-an nos mostra a importância de não sermos imediatistas, observarmos os processos e contemplarmos a verdadeira natureza dos fenômenos.
Uma adolescente angustiada e um grande negociante imediatista foram ao templo para tirar suas dúvidas com algum monge Ch' an (zen). Ao chegarem, encontraram uma monja que realizava o plantio de bambus em um canteiro do templo. Depois de cumprimentarem a monja. Fizeram Suas respectivas perguntas: Adolescente angustiada – "Mestra, uma terrivel dúvida paira em meu coração. Por que preciso estudar? O mundo não parece valorizar isto e o que importa para as pessoas é o lucro imediato. Mestra, com respeito não sei por que devo ter paciência para ter sucesso?" Negociante imediatista – "Mestra, Com relação a pergunta da jovem tenho a mesma dúvida, já que sou comerciante. Por trabalhar com comércio e prestação de serviços necessito de lucro rápido e imediato, pois contas a pagar e uma famíla para sustentar. Quando vou realizar um empreendimento, que acredito que vair dar certo e o lucro será imediato, ocorre que se torna um processo, do qual não desejo que haja. Mestra, com respeito não sei por que devo ter paciência para ter sucesso."
A monja olhou para os dois inquiridores, respirou profundo olhando para os bambus e para os brotos de bambus. Neste momento, ela teve um insight e voltou o rosto para os dois com um sorriso nos lábios, lhes respondeu: Monja- "O Dharma esta contido em todas as coisas. O Dharma esta na virtude da paciencia e no contemplar a verdadeira natureza das coisas. Observem estes bambus. Os bambus grandes demoram para crescer. Não é verdade?" Ambos os consulentes responderam que sim. E perguntaram: Consulentes – "Mas mestra o que isto tem haver com nossa pergunta?" Ela responde: Monja – "O bambu que é semeado no solo, lança primeiro suas raízes, porém isto leva uns cinco anos, ou seja, cinco anos se enraízando no solo para ficar bem firme, enquanto ele é um brotinho minusculo, quase insignificante. Após este período ele cresce, só que bem mais rápido. Observem nobres discípulos. Primeiro ele se enraizou por um longo tempo para depois se desenvolver. E quando já maduro ele é flexivel, mais do que o carvalho, pois nenhum vento o derruba, e este é o segredo da durabilidade do bambu. E esta é a lição que os bambus deixam para nós, tudo tem seu tempo e precisamos contemplar a verdadeira natureza dos fenômenos para não cairmos nas ilusões e sofrermos com isso." A jovem e o negociante agradeceram o ensinamento e partiram sorrindo.
* Extraído e adaptado de um dialogo trava do entre o autor e um padrinho de casamento. Um diálogo sobre a vivencia dos processos na vida intima e diária.

Kung-an – Entre a colina e a montanha.

Este Kung-an nos mostra sobre o apego a ilusão de ganhos e perdas e ao medo que nos acompanha, mostrando o vazio em todos os ciclos de nossas vidas.
Um comerciante foi à um monge Chan (zen) para se aconselhar sobre um empreendimento que desejava fazer, pois estava com dúvidas sobre o resultado deste empreendimento, observava os lucros e as perdas, porém ele se concentrava no medo das perdas. Ao encontrar com o monge, que estava meditando em frente a uma colina e a uma montanha. O homem chegou até ele e pediu sua licença, o monge terminou a meditação, o comerciante o cumprimentou com reverência e lhe dirigiu a palavra: - Mestre! Tenho uma dúvida. Tenho desejo de progredir em meus negócios mas a atualidade me mostra imensas dificuldades que podem me levar à ruína. O que devo fazer?
O monge ouviu a pergunta, pensou com o olhar na paisagem que se apresentava, a colina e a montanha que compunham a paisagem. Então com este contexto o monge teve um insight e sorrindo disse ao homem: - Para se tornar o rei da montanha deve descer da colina aonde tu resides, porém, nunca sabemos o que nos aguarda lá em baixo, nos vales. Mas para alcançar o cume desta montanha deves então realizar esta jornada. Ascensão, apoteose e queda são fenômenos da vida em que todos estamos expostos. O Buddha uma vez disse "a decadência é para todos", mas nada é para sempre quando uma criança caí, o que resta é se levantar. Portanto, bom homem realize esta viagem contemplando o vazio (Sunyata) nestes fenômenos.
Então o comerciante ao ouvir as palavras do monge refletiu, sorriu e agradeceu ao sábio pelo conselho com a certezade que a vida é movimento e assim se imbuíu de coragem e partiu. * Este Kung-an foi escrito e adaptado de um diálogo ocorrido entre o autor e um ilustre senhor nipônico sobre os fenômenos da movimentação e o conforto que nos leva a inércia. (de minha autoria)