quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Religião e Família: escolhas e aceitações. Ou diálogos (quase) secreto com os jovens.

Encontro do presente colunista com um grupo de jovens e seu tutor, para falar sobre família e liberdade religiosa.
Em um encontro com um grupo de jovens e seu tutor, ocorreu um dialogo informal relacionado aos artigos escritos no site Gosto de Ler e algumas dúvidas. Este encontro ocorreu no Centro do Rio de Janeiro. Contudo neste presente artigo não apresentaremos os nomes dos participantes, mas diremos seus sobrenomes, com exceção de J.S.G., que solicitou que não o identificasse em virtude dos acontecimentos recente de perseguição religiosa.
O presente autor esperou os jovens e seu preceptor, em lugar público no Centro da capital fluminense. Ao chegarem ocorreu cumprimentos mútuos. Os jovens iniciaram o dialogo.
J.S.G. - “Saudações professor Roberto! Trouxe meus jovens amigos para debatermos contigo sobre questões religiosas.”
Cardoso – “Nós lemos o seus artigos no Gosto de ler e gostamos do que o senhor escreve.”
Roberto Bastos – “Primeiro eu agradeço esta oportunidade de dialogar convosco.”
Magalhães e Carvalho - “Obrigado, por ter vindo, também!”
Roberto Bastos – “Achei interessante a iniciativa de vocês em travar um dialogo comigo, vocês vieram de um lugar distante.”
Cardoso – “Não professor. Viemos de lugares diferentes, mas não tão distante assim.”
Almeida -  “Nós queremos saber do senhor sobre as questões das escolhas religiosas que uma pessoa faz e sobre as posições contrarias da família.”
J.S.G. - “Nós percebemos, que em seus artigos mais recentes o senhor defendeu a Wicca e o ateísmo e, ainda se posicionou contra o proselitismo”
Carvalho - “O senhor também fez comparações entre religiões diversas em seus artigos.”
Cardoso - “Professor. Gostei de sua posição informativa contra o fanatismo em seus diversos artigos. Foi bastante explicativo e incisivo. Mas o senhor esta observando esta realidade em nossa sociedade atual?”
Roberto Bastos - “Alguma pergunta jovem Magalhães?”
<<Risos>>
Roberto Bastos - “Pela pergunta do senhor J.S.G., ou seja, primeiro os mais velhos.
<<Risos>>
Roberto Bastos - “Meu honrado senhor. Eu vi a necessidade de defender estes dois segmentos, pois ambos correm riscos. No caso da Wicca a execração e o descredito, em virtude de suas práticas mágicas. No caso dos ateus existe a incompreensão da sociedade, devido a necessidade de pessoas inteligentes e investigativas que nos levam a pensar e devido ao projeto de criminalização deste por parte dos fanáticos religiosos.” No caso do proselitismo é uma prática irritante e ignóbil de trazer uma pessoa para as suas hostes. As pessoas possuem o livre-arbítrio e todos nós devemos respeitar esta opinião e decisão dos outros.”
Magalhães -  “É Justamente o que não encontramos hoje, professor Roberto.”
Carvalho – “Lamentável!”
J.S.G. - “Compreendi melhor agora! Obrigado!”
Roberto Bastos - “Sua resposta agora, senhorita Carvalho. Neste caso quem irá responder  é Hipátia de Alexandria...”
Cardoso - “Grande filosofa!!!”
J.S.G. - “Shhiii! Falemos mais baixo, menina.”
Roberto Bastos - “Bom...ele disse uma vez: “Há mais coisas que nos unem, do que nos separam”. Sendo assim todas as religiões formam um grande mosaico de mistérios que nos fazem regressar a fonte primordial – o Inominável, o Tao, Deus, Universo, o Dharma.
Todas elas tem algo em comum e as pessoas não procuram ver isto.”
Cardoso – “O senhor parece costurar um colcha de retalhos em seu artigos.”
Magalhães - “Como o senhor disse o senhor esta montando um mosaico...não!!!na verdade o senhor esta nos avisando que existe um mosaico.”
J.S.G. - “Na verdade Magalhães, o professor esta tentando nos fazer pensar através de seus escritos e das idéias expostas pelos grandes mestres do passado.”
Roberto Bastos - “Quanto a pergunta da jovem efusiva e fã da Hipátia de Alexandria. Cardoso, infelizmente estamos observando o regresso de um fenômeno negativo no mundo atual e principalmente no Brasil, que é um país cristão, e Jesus Christos não foi um intolerante. Muitos não sabem, mas o episódio dos vendilhões do Templo de Jerusalém se deu em virtude de tais comerciantes, com respaldo dos sacerdotes, ocuparem o Átrio dos Gentios, um lugar de prece e oração dos não judeus, ou sejam os pagãos. Desta forma Jesus Christos defendeu o direito de oração dos outros.”
Almeida - “Sério?!?!? Mas, ninguém falou isto”.
Roberto Bastos – “O único que conheço que nos trouxe este conhecimento através de suas pesquisas investigativas foi o Padre Jean-Yves Leloup[1]. Ele fez estas pesquisas.”
Roberto Bastos -  “Porém deturparam as palavras deste sábio de Nazaré. E durante o Séc. V d.C. Ocorreram perseguições aos pagãos, judeus, filósofos, cientista e outros segmentos cristãos esotéricos e gnósticos. E hoje se repete tudo de novo.”
Roberto Bastos - “Jovem Almeida, a sua pergunta foi interessante e talvez posso dizer que vou considerar como o ponto central de nosso encontro.”
Almeida - “Pois é, professor. Quando um jovem escolhe uma religião diferente dos demais da família parece que esta cometendo um crime. O senhor já passou por isso? Não passou? E como o jovem deve proceder?”
Roberto Bastos - “Quando um jovem opta por uma religião fora da tradição familiar isto gera um choque, que irá trazer em um momento não aceitação, frustração e medo do desconhecido. Sim, passei por isso. Para te ser sincero, aliás, sincero com todos vocês. Há três caminhos que um jovem pode seguir. O primeiro – mostrar a mudança através de um comportamento, melhorias no caráter e no humor, assim como na forma de ver a vida. Todas as instituições religiosas e seus lideres nos afirmam para agirmos desta forma, pois quando há mudança para melhor é percebido ocorrerá uma aceitação e admiração dos familiares com relação a pessoa ou jovem.”
Almeida e Carvalho - “E se isso não acontecer???”
Cardoso - “O senhor falou sem muita convicção, professor!”
Roberto Bastos - “Com certeza, pois uma coisa é aplicar este ensinamento exposto pelos sábios e seus seguidores, contudo existem pessoas ou grupos de pessoas que fazem de tudo para te demover de teu caminho, como um caranguejo que te puxa para baixo...”
J.S.G - <<Risos>>
Roberto Bastos - “O que te resta a fazer é, neste caso o segundo caminho, prosseguir no caminho que você escolheu sem se importar cm a opinião e com os ataques, pois estes devem te servir como pedra de toque para a lapidação de teu caráter. Contudo, me permitam falar a realidade é que as famílias, em geral, não aceitam as mudanças e o pioneiro ou o audaz é posto em um estado de ostracismo e prossegue em um caminho solitário. É a partir deste momento que ocorre a ruptura por ambos os lados, devido a não aceitação e da obstinação.”
<<Silêncio>>
Roberto Bastos - “A terceira via seria a capitulação, ou seja, abrir mão do caminho escolhido para viver uma harmonia fleumática...”
J.S.G - <<Risos>>. “Perdoe-me. Foi hilário”
Roberto Bastos - “Sem problemas...ou viver de forma mais secreta a sua espiritualidade.”
Magalhães – “Isto é um pouco triste, professor. O que devemos fazer, realmente?”
Roberto Bastos – “Bem, jovem Magalhães apresentei três vias do que podemos fazer, agora depende de cada um.”
Após este dialogo todos os participantes se despediram e rumaram para seus destinos. Entretanto fica uma mensagem clara para os leitores e leitoras do Gosto de Ler, a liberdade ou Livre Arbítrio tem um preço e nem sempre é muito fácil seguir o caminho que escolhemos, principalmente quando a família não apóia ou tolera parcialmente.
Notas e referencias bibliográficas:

[1]      Jean-Yves Leloup – padre francês da Igreja Ortodoxa Grega, redescobridor e divulgador da meditação Hesicasta.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Entre Maya e Mamon (a ilusão do dinheiro)

Este artigo utiliza um conceito Judaico-cristão para falar sobre a Avareza (Mamon) e um conceito Indo-budista para falar sobre a Ilusão (Maya) e a relação entre o segundo e o primeiro neste processo triste de auto-escravidão.

Roda do Dharma

A busca incessante por riqueza, prestígio e prazeres e o apego a estes fenômenos são fontes de sofrimento e de mazelas.
Os homens comuns presos a ilusão de riqueza e o amor ávido (paixão), os fazem buscar, de forma faminta e cega, pela conquista da riqueza e dos bens materiais insaciavelmente, sem consciência de seus atos, de seus pensamentos e das palavras. Focados em seus objetivos, sem medir causas e efeitos, sem visualizar as condições e as causas, ou seja, não observam o contexto e a conjuntura, tentando legitimar a velha retórica de que os “meios justificam os fins”.
Sumi-ê bambu
Devemos entender que o dinheiro que entra em nosso bolso, e que conquistamos com o suor de nosso rosto, é uma energia atraída pelo desejo, pelo contexto trabalhista e pela Lei de Causa e Efeito. Porém, iludidos com a idéia do poder de compra que o dinheiro faz, somado a insaciabilidade e a inconseqüência, tornamo-nos escravos do consumismo exacerbado e sem limites. Observem que é necessário ter sabedoria e desapego para lidar com o dinheiro[1].
Assim como nos tornamos escravos de nossa avareza em desejar em ter mais em pouco tempo, da maneira mais fácil e sem doar uma parte dessa energia, não a fazendo circular, com medo de perder. É desta maneira que o apego aos bens materiais, a não contemplação dos ciclos de ascensão-apoteose-queda e a ausência do desapego nos escraviza à Roda de Samsara e ao sofrimento.
mulher tiarando máscara - Ilusão Mamon
 Maya                                          Mamon

Toda a sociedade se tornou escrava de Maya (ilusão) e Mamon (avareza). Quando contemplamos esta realidade podemos exercer o desapego. Segundo o Buddha Shakyamuni que nos adverte e nos dá uma sugestão com relação a este problema: “A fadiga e os problemas do ciclo de nascimento e morte advêm da ganância e do desejo. Nutram poucos desejos, sejam receptivos e serão felizes em corpo e mente”[2].
Para sermos felizes não precisamos ser ricos e avarentos; podemos ser ricos e generosos. É a generosidade que nos leva à realizações sublimes[3].
E o dinheiro é a energia que nos possibilita a manutenção necessária para nossas vidas, porém sem apego[4].
Meditação


Artigo escrito com a colaboração do jovem Sr. Anderson Roseti – Membro-obreiro da Assembléia de Deus.

Notas e referencias bibliograficas:

1 - HILTON, Susan - Feng Shui da  Prosperidade - Rio deJaneiro: Bertrand Brasil - 2003 - pag. 37.
2 - YÜN, Hsing - Budismo Puro e Simples: Sutra das Oito Percepções dos Grandes Seres - Cótia: Cultural - 2003 - pág. 7.
3 -  ROACH, (Gueshe) Michael - O Lapidador de Diamantes Estratégias de Buddha para gerenciar seus negócios e sua vida. -São Paulo: Gaya. 2007. pág 217.
4 - Idem - Idibem. 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

As contribuições positivas da Wicca para a Sociedade.

A Wicca ou o neo-paganismo, pode colaborar muito com a nossa sociedade moderna.
A Wicca é uma religião baseada em uma releitura do paganismo das sociedades antigas ou sociedades pré-cristãs. Tal fenômeno ocorre em virtude do descontentamento do quadro religioso e institucional atuais e das angustias dos jovens que buscam respostas, de forma intuitiva – o Chamado.
Em virtude de haver um único dogma, estrutura institucional mínima e descentralizada - osCovens – a Wicca atraí adeptos, em sua maioria adolescentes e jovens, por também haver Ritos de Passagens que trabalham os arquétipos e contribuírem com a responsabilidade social, ecológica e diversificada.
As responsabilidades sociais ocorrem em seus rituais de passagem destacando oHandfasting (casamento – junção das mãos), com ênfase no incentivo do casamento no civil, e o Hanparting (divórcio – separação das mãos) em uma tentativa de amenizar a ligação kármica do casal no momento da separação, contudo o casamento é um rito em que as vidas estão ligadas pelos laços emocionais e pelas ações e a cerimônia doHandparting serve como amenizador através da energia libertadora.
Em virtude de suas práticas místico-religiosas e de sua filosofia naturalista ou ecológica a Wicca e seus adeptos possuem uma ligação maior com a Natureza, tanto nos aspectos espirituais, elementais, cósmicos e Dhármicos. Através de seus exemplos de respeito com a Mãe-Natureza e os ecossistemas manifestos utilizando os três R’s (reciclar, reutilizar e reduzir), nos dando exemplos de preservação (conservacionismo) e gratidão pelos recursos ofertados pela alma primordial do Planeta – Gaia Mater – e pelos sutis presentes dos céus – Uranus Pater.
Para manifestarem suas gratidões, os wiccanos, utilizam a ferramenta da Magia, que mobiliza as energias a fim de manter a conexão sagrada. Tal ferramenta é uma espada de duplo corte, pois ao mesmo tempo em que atrai, fascina e transmuta, também assusta e repele os incompreensivos e fanáticos religiosos, que utilizam a retórica e a figura de pessoas ligadas as “entidades maléficas”. Porém, esta é uma forma vil de perseguir quem é diferente a fim de eliminar, execrar ou submeter a sociedade e o outro a sua postura fanática.
Embora a Wicca possua um dogma apenas este impede do praticante realizar um ato criminoso, sempre respeitando a liberdade de viver, com bom-senso, e o livre-arbítrio.
Porem, a parte filosófica não termina aí, pois eles respeitam as demais religiões em virtude da compreensão e da consciência colaborativa das Religiões no mosaico cultural. Além de nos ensinarem um princípio mestre sobre a vida, como um fenômeno pedagógico. Para os wiccanos a vida é uma grande publicana que um dia cobra o seu tributo, ou seja, o Sacrifício como um elemento equalizador, assim como no Passanah (filosofia judaica) em que tudo o que possuímos um dia vai embora e precisamos nos despegar, pois tudo é temporário e precisamos ter consciência e disposição para perder a fim de prosseguir ou conquistar, pois como nos afirmam os educadores físicos: “para ganhar músculos temos que perder gordura – emagrecer para ficar forte”. Sendo assim a Wicca nos mostra que de uma forma o acumulo é desnecessário, tal filosofia é citada no Judaísmo, no Budismo e no Estoicismo.
Apesar da Wicca se concentrar na Magia de forma demasiada esta religião naturalista pode constituir como uma parte do mosaico sócio-cultural importante. Porém, só o tempo e a oportunidade nos dirão.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Crítica ao Proselitismo

Evangelização, chakubuku, islamização, catequese e outras formas de proselitismo. Aonde se encontra o livre-arbítrio?
Um dos quadros mais angustiantes do cenário cultural religioso, que demonstra agressividade, escárnio pelo outro e pelo livre-arbítrio é o fenômeno do proselitismo, que acompanha o surgimento e o crescimento das seitas.
O proselitismo é a prática de tentativa de conversão. Todavia, este conjunto de ações não se mantém somente no âmbito religioso, mas também nos campos político-partidário, sócio-econômico, comercial -sistema de pirâmide, marketing de rede e networking – sociopolítico e, até, em manifestações bárbaras (gangues de rua, tribos urbanas, Modus Operandi animalesco e Modus Vivendi plebeu).
O proselitismo visa angariar membros através das técnicas de abordagem, divulgação da doutrina, promessas de milagres e benefícios, redenção de pecados e, às vezes, convencimento. Mas, estas são práticas exotéricas a fim de arregimentar pessoas e aumentar números, ou seja, um compromisso com a quantidade, desrespeitando o livre-arbítrio e desqualificando a posição de alguma pessoa.
O proselitismo religioso tem compromisso com o crescimento numérico, perdendo a qualidade em virtude de discursar para as massas e se concentrar nas questões dos resultados imediatos e mundanos, sem se preocupar com a qualidade do capital humano e com a moralidade dos ensinos expostos pelos heróis místicos.
As doutrinas expostas pelos Avatares acabam sendo desvirtuadas em favor de seguidores de mentalidade deturpada e mal-intencionada, formando assim corrente e subcorrentes, as seitas, que por sua vez são facções que assumem posturas diversificadas. Estas seitas se iniciam com uma minoria e acabam se estabelecendo como religião em virtude do crescimento numérico, devido a prática do proselitismo.
Santos Mestres
Porém, os Avatares sempre defendiam a posição do outro, ou seja, aquele que era de outra religião era compreendido, incentivado e defendido por estes iluminados mestres de sabedoria. Caso acontecesse alguma conversão à sua doutrina, este se dava em virtude do seu exemplo moral e de suas ações virtuosas e nobres.
Em uma viagem de Sua Santidade o Dalai Lama aos E.U.A. centenas de pessoas foram se encontrar com ele a fim de se converterem ao Budismo. Mas, ele recusou a conversão destas, afirmando que eles deveriam permanecer em suas tradições ancestrais e nacionais, que deveriam se tornar boas pessoas, através de suas práticas doutrinárias. Sendo assim, podemos afirmar que o correto é a pessoas viver com dignidade e Sua Santidade o Dalai Lama recusou a conversão daquelas pessoas em um ato de respeito e sabedoria.
Muitas pessoas engrossam as fileiras das instituições religiosas e seitas devido ao modismo, que segundo o cantor e compositor Oswaldo Montenegro, em uma entrevista a apresentadora Hebe Camargo, disse: “A moda é uma camisa de força da Arte”.
E ser você mesmo é uma Arte – a arte de viver.
Portanto respeitemos. Respeitem e serão respeitados.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A metempsicose, ou o “Novo sexo dos anjos”, e o renascimento (reencarnação).

Uma antiga discussão, que hoje se torna motivo de perseguição e escárnio. Pois é um patrimônio espiritual dos seres sencientes.
renascimento ou reencarnação é um patrimônio que ocorre com os seres viventes dos seis reinos existenciais. Mas, neste artigo abordaremos apenas dois reinos e a relação entre eles, pois estão próximos um do outro, são visíveis e palpáveis. Os reinos existenciais dos Animais e dos Humanos, sendo o primeiro, considerado como um plano de existência inferior, devido a sua carga de dor e limitação grande e visível, tornando-se um fato doloroso e pedagógico para os humanos, cujo reino é considerado superior, em virtude do livre-arbítrio, do posicionamento da consciência e da potencialidade de se iluminar alcançando o Nirvana.1
Porém, vamos observar a questão do renascimento (reencarnação), pois, este fenômeno, muito debatido, entre prós e contras a sua ocorrência e aqueles que têm uma perspectiva otimista e pessimista.2
Com isso podemos afirmar que a manifestação do renascimento se dá em virtude das causas e condições aglutinadas para esta ocorrência, pois, o ser humano é o agente e responsável por este fenômeno, graças a realização (consciente ou inconsciente) dos elos (Nidanas) através das três vias (pensamento, ação e palavra).3 Tudo o que os seres sencientes fazem tem efeito, porém, devemos ter consciência de tudo o que falamos, pensamos e fazemos. Entretanto, a nossa sociedade, notadamente a fluminense, atuais não incentivam a austeridade nas três vias e até a recrimina esta virtude e a noção de auto-controle civilizatório.4
Sendo o corpo (Soma ou Stula Sharira) perecível, pois quando se desgasta e a mente e o espírito o abandonam, pois estes são eternos, imortais e ligados aos planos sutis mais elevados.5 Mas como todos os seres sencientes geram elos que os prendem aMaya (ilusão) que age, justamente, na ideia dos apegos aos prazeres, aos medos, a ignorância e a repulsa da dor.6
Os seres sencientes se tornaram prisioneiros de suas ilusões e das emoções, que são causas e consequências. É neste ponto que retornamos as questões do renascimento e do meio. Sendo o primeiro uma manifestação dos apegos ou causa gerada pelos doze elos, realizados, em toda uma vida.
A partir do renascimento podemos destacar como um dos efeitos dentro dos elos, ou seja, o efeito de uma causa, que nos prende a uma roda sutil de existências conhecida com os nomes de Roda de Samsara, Roda do renascimento ou Roda das Almas (Guigul Neshamot) que denotam um ritmo natural da espiritualidade, observados pelos sábios de antanho e que afirmavam a responsabilidade dos homens por este ciclo.7
Dois grandes blocos...linhas...correntes religiosas, que abordam o renascimento ou reencarnação, como origem fenomenal da existência humana e animal e da manifestação da dor como foi abordado no artigo “Sobre o karma”.
Contudo, neste artigo vamos abordar as correntes cristãs (Espiritismo-cristão e a Igreja Católica Liberal – ICL8) e as tradições hindu-búdicas. Ambas as linhas abordam a reencarnação/renascimento como fatos fenomenológicos da existência cíclica, porém, o que as diferenciam são as abordagens referentes à metempsicose, pois o bloco cristão não concorda com a possibilidade de uma pessoa renascer como animal, em virtude da defesa de um progresso espiritual constante e contínuo do ser humano.
Desta forma as tradições cristãs discordam das “tradições orientais”, pois estas afirmam que os seres humanos podem, em virtude das causas cometidas, nascerem nos reinos inferiores. Porém, a metafísica oriental afirma a possibilidade de renascimento nos reinos superiores (humanos, Asuras – titãs ou anti-deuses – ouDevas (Deuses) ou em mundos mais felizes ou alcançarem o Nirvana e assim não mais renascerem e se integrarem com o Dharma.
Mas, quais são as bases para estas afirmações? Mais precisamente sobre a questão de renascer como animal ou mesmo não renascer?
Para as tradições orientais, cujas lógicas metafísicas se baseiam nas Filosofias de Mistérios iniciáticos, que afirmam a questão da causa e do efeito, ou seja, aonde colocamos nossas consciências (Antaskarana).
Podemos classificar os humanos em três categorias, através dos discursos doBuddha e do Bhaghavad Gita, ao abordarem aonde os homens aprisionados porMaya, colocam suas consciências.
Analisemos de cima para baixo. Os homens sábios e santos colocam suas consciências no mais elevado dos ideais e da sua psique – a Mente pura (Manas) e possuem uma chispa de intuição, além de vislumbrar a sua parte atmica (Vontade).9
Mais especificamente colocam suas consciências no caráter, a sua centelha divina, tais homens são classificados como Sattvas, iniciados, sábios, mestres e santos. Aqueles que transcenderam a personalidade e as amarras do mundo comum.10
Já os homens materialistas, céticos e intelectuais colocam suas consciências na Mente de desejos e organizativa (Kama-Manas).11 Sendo que nesta categoria de homens podemos identificar dois tipos de homens: os intelectuais e os materialistas, pessoas apegadas a matéria e aos fenômenos.
Segundo o Bhaghavad Gita, estes homens são chamados de Rajas, em virtude da posição de sua consciência nas questões deste mundo denso e ilusório, por isso ficam apegados ao mundo material e a intelectualidade vazia.12 Como foi explicado no artigo sobre “As inteligências”.13
Agora, observemos os homens comuns, a plebe, que posicionam suas consciências nas emoções (Linga Sharira) para baixo, vislumbrando apenas a mente de desejos de forma leviana, vivendo de forma instintiva e passiva (inerte)14. O Bhaghavad Gita os classificam como Tamas, por viverem de forma irracional, inconseqüente e seguirem seus instintos mais primitivos valorizando seus desejos desnecessários e se apegando as suas paixões.15
A identificação com as emoções é uma característica dos animais, que vivem de acordo com seus instintos primitivos,16 assim são estes homens tamásicos, que segundo um lamento proferido pelo mestre Paramahansa Yogananda, são homens que se identificam com a sua parte animal – as emoções.17
Logo, podemos chamá-los de homens-animais, por possuírem a forma humana, mas agem e se identificam com os animais. Que através destas causas lançam as sementes para renascerem como animais.
Pois como foi dito anteriormente os homens são responsáveis pelo fenômeno do renascimento, embora, os animais também tenham esta responsabilidade.
Entretanto, por darmos atenção ao Reino Humano ignoramos os demais reinos. E a discussão sobre a Mentempsicose nos parece infrutífera, em virtude da importância da divulgação referente ao renascimento(reencarnação) e o aproveitamento deste patrimônio para evoluirmos ou nos libertarmos desta Roda de Renascimentos – alcançar o Nirvana -, sempre cônscios da Lei de Causa e Efeito (Dharma) e de nossas ações (Karma), pois não somos crianças e devemos agir de forma madura, austera e responsável.
Notas e referências bibliográficas:
1YÜN, Hsing – Budismo: Conceitos fundamentais – Editora de Cultura, São Paulo – S.P. – 2005 – pág. 14. e LIVRAGA, Jorge Angel - Fundamentos da Teoria da Reencarnação – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2009 – pág. 11.
2YÜN, Hsing – A Roda do Renascimento – Templo Zu Lai, Cotia – S.P. – 2004 – págs. 30 à 31.
3YÜN, Hsing – Budismo: Conceitos fundamentais – Editora de Cultura, São Paulo – S.P. – 2005 – pág. 47.
4YÜN, Hsing – Op. Cit. – págs. 08 e 09.
5LIVRAGA, Jorge Angel – Reflexões Filosóficas sobre a Vida e a Morte – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2010 – págs. 07 à 10.
6GUZMÁN, Délia Steinberg – Os Jogos de Maya – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2010 – págs. 23 e 24.
7SILVA, Severino Celestino da – Reencarnação no Novo Testamento (parte 2) –In Correio Espírita n° 112, Centro Cultural Correio Espírita, Niterói – R.J. - pág. 15.
8N. A. (Nota do Autor) – Esta é uma Igreja Católica que não obedece ao Vaticano, portanto não esta ligada ao Catolicismo Romano. Em virtude da Declaração de Utrecht de 1889. Este é um cristianismo Gnóstico. Verhttp://www.catolicaliberal.com.br/icl/playaudio.php?msg=103 acessado em 18/04/2015 às 14:07.
9LIVRAGA, Jorge Angel - Fundamentos da Teoria da Reencarnação – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2009 – págs. 12 à 15. e Ver artigo: http://www.gostodeler.com.br/materia/18942/as_inteligencias.html
10BHAGHAVAD GITA – Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo – S.P. - 2006 - págs. 156 à 160
11LIVRAGA, Jorge Angel - Fundamentos da Teoria da Reencarnação – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2009 – págs. 12 à 15.
12BHAGHAVAD GITA – Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo – S.P. - 2006 - págs. 156 à 160
13Ver artigo: http://www.gostodeler.com.br/materia/18942/as_inteligencias.html
14LIVRAGA, Jorge Angel - Fundamentos da Teoria da Reencarnação – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2009 – págs. 12 à 15.
15BHAGHAVAD GITA – Editora Pensamento-Cultrix, São Paulo – S.P. - 2006 - págs. 156 à 160
16GUZMÁN, Délia Steinberg – Op. Cit. – Nova Acrópole, Belo Horizonte – M.G. - 2010 – pág. 35.
17YOGANANDA, Paramahansa – A Yoga de Jesus – Self-Realization Fellowshipi, São Paulo – S.P. - 2013 – pág. 57.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Zen.

Neste presente artigo se faz uma exposição sobre o fenômeno da popularização da palavra “Zen” e esclarecer sobre o seu significado e o que realmente ele é.
Ch&39;an
Toda vez que ouvimos as expressões populares sobre o Zen[1] as tornam adjetivos pessoais. Como exemplos: “Fulano é zen”; “hoje meu marido está zen”. O zen desta forma se tornou um adjetivo de tranqüilidade, embora a palavra tem uma relação com este estado mental, mas que não está submetido aos fatores externos.
A origem da palavra Zen, ligada ao Budismo, pois faz parte dos ensinamentos do Buddha, vem de Zen-na, de origem japonesa, em virtude da chegada do budismo no Japão, pois a Escola que havia entrado se chamava de Ch’ an, de Ch’an-na, de origem chinesa, esta expressão era oriunda da palavra sânscrita Dhyana, que sugnificava “Concentração Tranqüila”, uma ferramenta exposta pelo Buddha Shakyamuni (Siddartha Gautama), ao passar um ensinamento silencioso, do qual ele levantou uma flor com a mão e a sustentou, seus discípulos não compreenderam este ensino, apenas Mahakashyapa o compreendeu e expôs o ensino compreendido[2].
Orquídea
Sendo assim, o Dhyana (Zen) é um ensino que expõe a vacuidade (Sunyata) em todos fenômenos da Vida, o comportamento da mente, a observação da Gênese Condicionada e a aplicação de uma concentração tranqüila nas tarefas cotidianas[3], tal método é desprezado e escarnecido pelos homens ocidentais contemporâneos (bárbaros).

Desta forma o Dhyana é parte da vida cotidiana, ou seja, estarmos presentes de forma fluídica, contínua e tranqüila, concentrados e atentos a fim de controlarmos os nossos instintos e seguirmos os nossos dharmas e, juntamente a este método, respondermos as perguntas de nossos pequenos mistérios: Quem somos? De onde viemos? Para aonde vamos? Cada homem e mulher deste planeta responderão para si mesmos a estas perguntas e realizar sua jornada[4].

A popularização do Zen (Dhyana) se deu em virtude do I Parlamento das Grandes Religiões, em Chicago no ano de 1893, do qual a única Escola budista que aceitou o convite foi a Escola japonesa Rinzai (uma escola zen)[5], embora a chegada do Budismo em terras ocidentais se deu nos meados do Séc. XIX, ocorrendo conversões de proeminentes figuras da sociedade estadunidense, como o militar e jornalista Henry Steel Olcott, co-fundador da Sociedade Teosofica em New York[6].

Coronel Henry Steel OlcottCoronel Olcott e monge singalêsI Parlamento das Grandes Religiões, Chicago - 1893

Voltemos as nossas atenções ao I Parlamento de 1893, sendo a Escola Rinzai a se promover, apesar de não ter apoio institucional, além de serem sobrepujados pela presença do Swami Vivekananda (hinduísta), cuja presença era ansiosamente esperada, conseguiram lançar suas sementes em terras ocidentais, pois até hoje a escola budista mais conhecida pelos ocidentais é o Zen (Dhyana) [7]. Tanto de forma mítica, como filosófica, passando pelas formas artísticas da Literatura (caligrafia, Haicai – poemas naturalistas,que valoriza a concisão e a objetividade -, Koans – contos paradoxais)[8] e das artes plásticas (Sumi-ê – desenhos paisagísticos  ou natureza morta, que refletem a calma  e a reflexão, feitas em tinta nanquim)[9].
Meditação
Sendo assim, o Dhyana ou o Zen é um método exposto pelo Buddha Shakyamuni, que utiliza a meditação Samartha, a fim de conduzir as mentes humanas à tranqüilidade e conseqüente concentração e auto-conhecimento. E não é um termo vulgar que adjetiva as pessoas tranqüilas e focadas[10].

Notas e referências bibliograficas:

[1] O Zen está contido dentro da corrente Mahayana (grande Veículo). STODARTT, William - O Budismo ao seu Alcance – Editora Nova Era – Rio de Janeiro – R.J. 2001 – Pág. 32.
[2] YÜN, Hsing – A Essência do Ch’an – Templo Zu Lai – Cotia – S.P. 2003 – Pág. 06.
[3] Uma das escrituras budistas que faz referências a vacuidade e o relaciona com o Dhyana é o Sutra do Coração da Sabedoria (Prajna Paramita Hradya Sutra). Expondo o verdadeiro aspecto comportamental da mente perante os fenômenos da mente e o verdadeiro caminho para a libertação das Ilusões (Maya).
[4] YÜN, Hsing – Histórias Ch’an – Editora Shakti – São Paulo – S.P. 2000 – Págs. 09 à 11.
[5] PEREIRA, Ronan Alves – O Budismo Japonês: sua história, modernização e transnacionalização  – Artigo disponível na Reviste Eletrônica de Religiões (REVER) da PUC-SP – São Paulo – S.P. 2004 – Págs. 18 e 19.
[6] Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o_nos_Estados_UnidosBudismo. Acessado em 17 de novembro de 2013 às 17:59.
[7] PEREIRA, Ronan Alves – Op.Cit  – Págs. 19 e 20.
[8] Todas as artes literárias sofreram influência profunda pelo Zen, a fim de despertar o caminho da iluminação pela beleza reflexiva das palavras.
[9] Assim como as artes literárias  a arte plástica da pintura paisagística foi influenciada pelo Zen-budismo com a mesma finalidade, porém com o diferencial do recurso visual.
[10] GOLDSTEIN, Joseph - DHARMA: O Caminho da libertação: O Nascente Budismo Ocidental – Editora Bertrand Brasil – Rio de Janeiro – R.J. 2004 – Págs. 97 e 98.